Pov Akisawa
As minhas pernas já me doíam de tanto correr. Acho que nunca corri tão depressa na minha vida. E enquanto corria, as lágrimas não queriam deixar de cair por muito que as limpasse com a manga do uniforme escolar.
Já tinha um mau pressentimento desde manhã mas pensei que fosse apenas impressão minha e que me estava a preocupar por nada. Afinal, devia ter dado ouvidos ao meu instinto.
Assim que a Sakura me contou sobre o que se passava, larguei tudo na escola, deixando a minha mochila e todos os materiais e saí a correr... Em direção à casa do Kaito.
Horas antes
-Bom dia.- cumprimentei o meu pai e a Juliet que já estava sentados à mesa, pois eu tinha demorado um pouco mais do que tinha pensado, a arranjar-me.
-Bom dia filha! Estás bonita hoje!- comentou o meu pai.
O facto dele me dizer aquilo- o que é uma raridade- deve-se ao facto de eu ter o cabelo esticado.
Hoje acordei por volta das seis da manhã porque na noite passada simplesmente me deu para... Esticar o cabelo! Então, às seis, acordei e fui direita à casa de banho arranjar-me. Não vou a nenhuma festa, nem tenho nada de importante na escola, simplesmente... Apeteceu-me! Talvez a culpa seja do Kaito porque desde que estou a namorar com ele, um lado meu mais efeminado veio à tona. E muito sinceramente, quando estava a estica-lo, não deixava de pensar no Kaito e se ele irá gostar de me ver assim!
-É... Apeteceu-me.
-Não tem nada a ver com aquele teu amigo, pois não?
-Não pai, não tem a ver com ele.- respondi, antes de levar o copo de leite à boca.
-É bom que não.- e continuou a comer as torradas.
O meu pai sabe mesmo como estragar a manhã de uma pessoa. Felizmente quando sair da porta para fora, não tenho que o aturar e estarei com pessoas que sim, melhoram consideravelmente o meu dia.
Terminei o pequeno-almoço pouco depois do meu pai, a tempo de sair de casa antes dele o fazer porque não encontrasse o Kaito à porta de casa, esperando por mim em cima da mota e desencadeassem ali uma conversa que para mim mais tarde, se transformaria numa discussão acesa com o meu pai.
Corri até ao sofá onde deixei a mala da escola, peguei nela e corri novamente até à porta onde me calcei rapidamente para depois sair porta fora com a mesma rapidez sem me despedir de ninguém, também nunca o fizera e não era hoje que isso ia acontecer.
Assim que saí, estranhei algo. O som de um motor a trabalhar e o cheiro a gasóleo acabado de por no depósito, era inexistente no ar. Em passo acelerado, passei o muro da minha casa na esperança de ver o Kaito do outro lado, enquanto pensava que talvez ele tivesse desligado a mota, ou talvez nem a trazia mas assim que olhei para a longa rua, não vi nem mota, nem Kaito em lado nenhum. Olhei para o outro lado pensando que ele talvez me quisesse assustar mas nada aconteceu.
Sem pensar duas vezes, tirei o meu telemóvel da mala e meti a chamar para ele na esperança de me explicar o que se passava. Ao menos podia ter avisado que não vinha. Eu sabia bem que ele tinha o hábito de faltar às aulas porque lhe apetecia só que quando ele fazia isso, geralmente avisava sempre.
Tocou uma vez... Duas... Três... Até que chegou ao décimo toque, quando desliguei percebendo que não valia a pena e que a chamada ia parar ao atendedor de chamadas.
Uma sensação de desconforto e mau pressentimento, percorreu-me por completo. Mordi o lábio inferior na tentativa de evitar pensar que acontecera algo ao Kaito ou que ele se tinha metido em sarilho com os amigos dele. Desde que estamos juntos, ele pareceu endireitar-se um pouco em relação com quem anda por me respeitar, mas é claro que eu também não o posso proibir de andar com quem ele quer.
Enquanto me punha a caminho da escola, tentei ligar à Sakura por duas vezes, mas só à terceira é que atendeu.
-Bom dia!- cumprimentou quase a gritar pelo telemóvel.
-Bom dia.- já eu, cumprimentei-a de forma seca como sempre.
-É estranho ligares-me agora! Tendo em conta que nos vamos encontrar daqui a pouco e que tu estás em cima de uma mota.
-Na verdade estou a ir a pé para a escola.
-Mas porquê?! Tu e o Kaito chatearam-se?
-Não! Nada disso! Ele normalmente está sempre à porta da minha casa e hoje não apareceu, não me disse e já tentei ligar-lhe mas nada.
-Talvez tenha adormecido! Acontece a qualquer um!
-É... Deves ter razão, eu estou a ser chata ao preocupar-me por nada.- não sabia se aquelas palavras serviam para me confortar a mim própria ou para dar razão à Sakura, já que os sentimentos de há pouco ainda se mantinham bem vivos dentro de mim.
-Estás nada! Isso só prova que te importas com ele e é muito fofo!- para ela tudo é fofo, mas enfim- Ouve, se isto te deixa mais confortável, eu vou passar por uma rua perto da casa dele daqui a uns dois minutos, posso fazer um pequeno desvio e ir lá a casa saber o que se passa! E caso ele esteja a dormir dou-lhe um valente pontapé naquele traseiro por deixar a sua namorada à espera! Satisfeita?!- esta rapariga realmente não existe. O ela acabara de dizer apenas me fez rir.
-Muito satisfeita! Obrigada Sakura!
-O prazer é meu! Até já!
-Até já!- e desligamos.
Apesar de me sentir mais confortável com o que a Sakura dissera o estranho sentimento não desaparecia, se bem que continuei o meu caminho pensando que tudo estava bem, que eu estava a imaginar coisas e talvez fosse apenas o frio que me estava a trocar as voltas todas.
Realmente já não estava habituada a ir para a escola sozinha. Quando ia na mota com o Kaito gostava sempre de o agarrar e me deitar nas suas costas sentido o seu calor e o seu cheiro a menta.
É estranho como as coisas mudam de um dia para o outro. Há uns meses, detestava o Kaito e nem o podia ver à frente, hoje, sou namorada dele e agora preocupo-me com ele pensando que algo de mau aconteceu.
Assim que cheguei à escola, fui direta para a sala onde me sentei no meu lugar mas logo olhei para trás, vendo o lugar do Kaito, vazio, sem ele sentado a sorrir para mim.
De repente, quando pensei em sair para ir até à sala da Sakura ver se ela já tinha chegado, vi a mesma entrar a correr pela minha sala até ao meu lugar, o que me fez levantar de seguida.
-A-Aki...- a sua respiração parecia pesada, parecia que tinha acabado de correr quilómetros até chegar a mim- O Kaito... Em casa...
-Acalma-te Sakura! Assim não te percebo!- ela apenas se curvou, pondo a mão nos joelhos para poder recuperar o fôlego. E logo se levantou com a respiração mais controlada- O que estava a dizer sobre o Kaito?
-Eu passei por casa dele como te disse, lembras-te?- perguntou-me pausadamente ainda tento recuperar o fôlego.
-Sim, óbvio que me lembro.
-Eu fui lá e pedi para falar com o Kaito, mas um dos seus criados disse-me que ele não podia receber visitas. Perguntei porquê mas ele não me disse e eu insisti, até que disse que eras tu só que ele não acredito porque ao parecer já te tinha visto lá em casa.- depois de tanto falar, voltou a encher o peito de ar e a manda-lo de novo cá para fora.
-E?
-E então quando eu estava prestes a recorrer ao plano B, ou seja gritar para chamar a atenção do Kaito, o mesmo apareceu no pátio, de yukata negro, meio despenteado e... Sabias que o seu olho direito é vermelho?
-Olho vermelho?
-Sim! Aquele que ele tem sempre tapado por uma pala!
Então afinal o seu olho era mesmo vermelho! Não foi imaginação minha o que vi daquela vez na minha casa. Porque razão o era? Será que ele tinha heterocromia? Se era isso, porque razão escondia? Há muitas pessoas com isso e não têm qualquer problema. Talvez para o estilo e para que não soubessem da verdade. Eu tinha perguntar ao Kaito o porquê de tudo isto.
-Isso eu já sabia.
-Bem, eu não! E devia! Sou vossa amiga!- apenas revirei os olhos.
-E só sabes isso?
-Bom... O Kaito parecia estranho.
-Estranho como?
-Ele parecia cambalear e o seu olho, o vermelho, não tinha qualquer vida. Parecia mais um meio-zombie se queres que te diga.
-Ele estava assim tão mal?- o que a Sakura dissera, fez-me a minha preocupação aumentar e o meu mão pressentimento aumentar.
-Parecia bastante mal sim. Ele também chamou pelo teu nome e foi até ao portão onde eu estava mas assim que me viu voltou para trás como se eu não importasse para nada. Ele quase caiu ao chão mas um rapariga loira que estava com ele amparou-lhe a queda e ajudou-o a voltar para dentro. E foi quando o criado dele...- antes dela poder terminar a frase, sai a correr da sala antes ouvir a sua explicação até ao fim.
Ainda a ouvi chamar-me mas nem dignei a olhar para trás, pensando apenas numa coisas... No Kaito.
Atualmente
Revi imensas vezes o que a Sakura me dissera enquanto corria o mais que podia apesar do protesto das minhas pernas.
Nesse momento, a chuva começou a cair molhando completamente o uniforme e o cabelo, mas pouco me importava. Poças de água foram-se começando a formar no chão devido à chuva que só piorava, que começou a receber a companhia de trovoada.
De repente, um enorme trovão pareceu abanar a própria Terra, mas afinal, apenas me fez assustar e cair ao chão, molhando-me com a lama do passeio por onde corria. Tentei levantar-me novamente mas o meu joelho não me permitia e voltei a cair de lado. Olhei para o local magoado e vi que tinha o joelho esfolado devido à queda.
Pus-me de joelhos, soquei o chão e gritei. Estava frustrada por não ter seguida os meus instintos, por ter duvidado de mim quando já podia estar ao lado do Kaito, ajudando-o e cuidando dele. Em vez disso, preocupava por ele não aparecer para me dar boleia para a escola.
Fiz um esforço para me levantar apesar dos protestos do meu joelho ensanguentado e continuei a correr com muito custo. Já não sabia se que o meu passava pelo rosto era a água da chuva ou as lágrimas que não deixavam de cair.
Queria chegar a casa do Kaito o mais depressa possível. Queria ver com os meus próprios olhos como é que ele estava e ajuda-lo. Não queria dizer-lhe adeus... Isso não ia acontecer.
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