20 de janeiro de 2014

Prólogo - Fanfiction- "Sekai e no Kagi"- Nídia Chan


Austrália, Camberra. 3:00pm.

Uma figura saiu da última loja de convivência de uma rua que para muitos é inexistivel. Caminhou com passos firmes e rápidos, tentando não tropeçar nas latas e caixotes que vagueavam por ali com o vento. O seu olhar era coberto por uns óculos de sol que cobriam quase metade da cara e os seus cabelos eram escondidos por um gorro preto de Inverno. 

A lua que quase se extinguia por entre o negro céu, mal conseguia iluminar a aparência da pessoa, simplesmente aluminando um casaco de cabedal por entre a escuridão do arruamento. Ouvia-se só o eco dos passos a baterem ora no chão ora nos charcos de água deixados pela torrencial tempestade que deixou metade do país apagado. 
A corrente de ar gélida batia contra a garganta nua do sujeito, produzindo um arrepio pelo seu corpo e fazendo-o enfiar as mãos nos bolsos do casaco. Os prédios cresciam à medida que caminhava e faziam com que a pouca iluminação dada pela lua se extinguisse por completo, deixando-o completamente envolta da escuridão. Em sua volta a rua diminuía de largura e começavam a aparecer gatos sentados em cima de parapeitos das janelas corroídas, por cima de barris abandonados, caixotes do lixo, caixas, grades de varandas. Estes o olhavam com bastante curiosidade e com um fervor no olhar vermelho. 
O indivíduo caminhava no mesmo passo, ignorando todos os olhares estranhos dados pelos animais, mas com o corpo tenso e apertando forte a carta que trazia no bolso. Á sua frente, mais felinos apareciam de diferentes raças, de persas a gatos de rua, dando-lhe passagem até à saída da rua sombria. Deixou-se caminhar por entre eles com o pensamento fixo no que iria fazer a seguir.

Virou para a direita, deixando o arruamento umbroso para trás, já se encontrado num local conhecido por muitos. Os candeeiros que ainda funcionavam, iluminavam-no, acompanhando a sua sombra vagarosa. Afinal, ele tinha todo tempo do mundo. Em sua volta via-se pessoas a comentar sobre o apagão total que acontecera, mulheres saiam de casa aterrorizadas com os electrodomésticos avariados, objectos queimados e aparelhos danificados. Bombeiros, ambulâncias e polícia passavam a velocidades descontroladas, socorrendo alguém que tivera pouca sorte durante a tempestade – classificada por muitos – irreal. Árvores cobriam estradas, juntamente com potes eléctricos que ainda soltavam faíscas de electricidade. Parecia um caos total. As crianças não ligavam para o perigo e só corriam de um lado para o outro como se fosse o fim do mundo e estivessem a ser atacadas por monstros. Parliamente House inclusive tinha sofrido consequências do temporal, muros destruídos, jardins em chamas, pedaços de vidros por todos os lados, tudo arruinado, inclusive, pessoas haviam ficadas cobertas pelas paredes desmoronadas. Todos socorriam todos e andavam numa euforia, completamente pasmados do que estava a acontecer.

Com a pouca iluminação que o cobria já se conseguia notar a barba cerrada, os lábios grossos e a estrutura alta e forte. O seu ar estava tenso e não tinha cara de quem quisesse fazer amigos. Mordeu o seu lábio inferior em nervosismo, como se soubesse que estivesse a ser observado. Os óculos escuros impediam de saber por onde estava a olhar, mas com toda a certeza procurava alguma coisa fora do sítio. O preto cobria-lhe o corpo, mostrando o quanto era estranho, mas as pessoas não o notavam, estavam mais preocupadas com o que haviam de fazer. Já ele, dirigia-se com destino numa das próximas ruas, em uma das inúmeras casas, mais precisamente, a número cinco.

Passou por todos os gritos e lágrimas, chegando ao seu destino. Uma casa se mostrou após uns enormes arbustos quase do tamanho das árvores. Um caminho de pedra expôs-se por entre os enormes arbustos que se estendiam, dando à casa branca de um andar. 
A casa parecia ser mais uma da Austrália: canteiros nas varandas, uma porta maciça branca de entrada, um tapete de boas vindas no alpendre, jardim florido em sua frente e cortinas brancas se mostravam pelas janelas.

O sujeito não precisou de bater à porta, simplesmente esta se abriu vagarosamente e sozinha e este adentrou dentro da residência. A sala mostrou-se, seguida da cozinha. 
Havia os tradicionais móveis e aparelhos de uma sala australiana, assim como na cozinha. 
Por todo lado se encontrava recordações de todo mundo, bonecas espanholas, cartões de Inglaterra e Canadá, uma Torre Eiffel em miniatura, um galo tradicional de Portugal… 
O chão era quase todo coberto por tapetes grossos de Inverno. Um cadeeiro carregado de pérolas encontrava-se no meio da sala, quase batendo na cabeça do rapaz quando este passou.

Subiu as escadas que se situavam na cozinha e dirigiu-se a uma das inúmeras portas que se estendiam no corredor escuro. Por de trás da porta com o número dois deparou-se com uma enorme sala que continha um piano, cadeirões, duas estantes com um vaso de rosas azuis e cinzentas. A porta, como a primeira, fechou-se vagarosamente, sem precisar de ninguém para a empurrar. Ele caminhou um pouco até um dos cadeirões virados para uma lareira acesa, onde se encontrava alguém sentado que não se mexeu nem precisaria para saber que quem estava ali era aquele rapaz.

- Trouxe a encomenda. – soou a voz grossa, vinda do jovem com o casaco de cabedal. Tirou a carta que trazia no bolso e pousou-a em cima de uns dos cadeirões.

O homem levou o cachimbo, que segurava na mão esquerda, à boca e nada disse.

- Podes dizer ao Kasu que não gosto de ser vigiado. – deitou as mãos aos bolsos, deu meia volta e começou a dirigir-se à mesma porta pela qual tinha entrado, mas foi detido pela voz grave do homem no cadeirão.

- Não sou eu que mando. – o rapaz olhou por cima do ombro e viu o braço esquerdo do homem pousando sobre um dos braços do cadeirão, segurando o cachimbo de formato Churchwarden, com um símbolo gravado desconhecido para a maioria das pessoas, mas totalmente conhecido por ele. – E se ele mandou alguém para vigiar é porque não confia em ti.

- Ele não confia em ninguém.

- Tem razão para isso. – fez uma pausa – Não podemos confiar em ninguém principalmente em nós próprios. Se nós se iludimos acabamos perdendo, não se pode confiar no nosso coração, ele é demasiado ingénuo e devemos confinar no nosso cérebro. – e levou novamente o cachimbo à boca, sugando o cano devagarmente.

- A encomenda está feita. – a voz do rapaz saiu ríspida.

- Para onde vais agora?

- Portugal, Brasil e de seguida, América. Tenho três trabalhos para agora.

- Tu sabes hablar português? – falou em português com um sotaque quase perfeito.

- Hablar é espanhol. – disse, retomando o seu caminho à porta.

- É estranho… tinha a certeza que era português. – ouviu-se o som dele a relaxar no cadeirão e a sua voz voltou-se a soar, mesmo antes do rapaz de óculos escuros pegar na maçaneta. – E também é estranho como consegues estar tão calmo, parece que os rumores são falsos. Ouvi dizer que Ni-

- Não são falsos. – cortou.

Um som de redemoinho do vento ouviu-se vindo da lareira como uma faca a cortar o ar. Ambos permaneceram em silêncio, mas não durante muito tempo, porque o moço terminou por concluir:

- Ela está morta.

Pela pouca claridade que entrava pela janela, conseguia-se notar as sobrancelhas grossas e cinzentas do homem a franzirem e a voltarem ao normal. Ele deslocou a cabeça um pouco, olhando para a enorme janela, formada por quadrados, que ia do chão até ao tecto, mostrando o ambiente lá fora. O céu parecia-se imitir luzes em branco, como rasgões. Ouvia-se já o som de relâmpagos a soar pela casa.

- Deves ter cuidado, vem aí uma nova tempestade. – dizendo isto, a porta novamente se abriu por ela própria, como se possuísse vida, e o rapaz saiu, deixando o misterioso homem sozinho.

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